Buraco no Caminho
Na década dos anos sessentas, quando garotos, morávamos numa vila, numa cidade do interior paulista. Com outras crianças, brincávamos em um cafezal e, às vezes, um grupo aproveitava para "visitar" um pomar e "roubar" laranjas para chupar. Só na minha casa éramos em 10 meninos e 2 meninas. Não éramos cristãos. Meus pais eram católicos romanos — como todos —, e um pouco espíritas — como a maioria. Não obstante a rigidez de meus pais, escapávamos para as peraltices. Eu tinha muito medo do perigo dos cachorros da fazenda e do guarda do pomar, além de meu pai, que não deixava passar nada. Mesmo assim, acabei indo uma vez ao pomar.
O dono era o "seu" Augusto Roldão, um espanhol já idoso, que fazia a molecada tremer só de vê-lo em seu carro aproximando-se da entrada do cafezal que se ligava ao pomar. Até mesmo brincar de pique-e-salva no pomar era perigoso. O velho era ranzinza. Pelo menos era o que pensávamos dele.
No cafezal e no pomar, havia um guarda igualmente ranzinza que andava com um pequeno podão — uma pequena foice — e tinha fama de malvado. Um dia, o guarda adentrou a rua B, paralela ao cafezal, correndo atrás de uma molecada que havia roubado laranjas.
Meu irmão Gerô, que hoje é pastor, estava em casa, mas quando ouviu o burburinho, saiu correndo atrás, a exemplo de outros garotos. O homem parou em frente a uma casa, e insistia com os moradores dizendo que um de seus filhos também estava com os "ladrões". Na verdade, um dos "gatunos" tinha pulado o muro daquela casa para fugir do velho, embora não morasse ali. Como meu irmão sabia que o Darli, filho do casal, não estava entre os peraltas do dia, aproximou-se e confirmou o que aquela mãe dizia, sem conseguir convencer o velho de que o Darli realmente não havia participado da façanha.
Quando o velho ouviu meu irmão falar, replicou:
—Ah! Então você estava junto também! — e passou a persegui-lo de podão em punho.
No corre-corre, o guarda rodou o podão para acertar-lhe o pescoço, justamente quando Gerô pisou em um buraco. O tropeço foi o bastante para salvar-lhe o pescoço. O espaço da queda de seu corpo no buraco foi o suficiente para que o podão roçasse pouco acima de seus cabelos. Aquele buraco salvou-lhe a vida.
£ sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto (Rm 8.28).
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